Mulheres que inspiram.

Mulheres que inspiram. Ana Carla 15 de março de 2023

Mulheres que inspiram.

Bárbara Pereira de Alencar, nascida no sertão pernambucano de Exu, em 11 de fevereiro de 1760, foi a primeira prisioneira política da história do Brasil e, por sua participação ativa na República Pernambucana de 1817, tornou-se protomártir da Independência do Brasil.

Casando-se aos 22 anos, transferiu-se para o Crato, no sul do Ceará. Foi mãe de cinco filhos; dois deles, José Martiniano de Alencar e Carlos José dos Santos, foram estudar no Seminário de Olinda; onde vieram se inteirar das ideias do liberalismo europeu do Século 17, fundamentos do ideário da República de Pernambuco de 1817.

Respeitada e atuante como uma das mais importantes matriarcas da região, figurada como uma mulher forte do sertão. Por conta de suas ligações com Pernambuco e em acordo com as ideias de seu filho, José Martiniano de Alencar, aos 57 anos teve participação ativa na Revolução de 1817, que começara justamente em Pernambuco. Com a Proclamação da República de Pernambuco , dona Bárbara Pereira de Alencar, proclamou a República do Crato, que teve a duração de oito dias, antes de ser severamente reprimida pelas forças aliadas da Coroa Portuguesa.
A repressão à República do Crato foi avassaladora. Bárbara e seus filhos foram presos e levados primeiro para Fortaleza, depois para Recife e Salvador. Todos os escritos de Bárbara foram destruídos ainda em 1817, o que favoreceu a defesa da família Alencar, livrando-os da pena capital. Após mais de três anos de prisão, Bárbara foi anistiada. Ao retornar, além da fama de traidora, havia perdido todos os seus bens.

Os contratempos e a idade não impediram que Bárbara participasse de outra revolta, agora com o Brasil já independente e contra Dom Pedro I e seu autoritarismo. Ela tomou parte da Confederação do Equador que explodiu em 1824 em Pernambuco, e que rapidamente se alastrou por outras províncias do Nordeste, entre elas o Ceará. Os rebeldes novamente foram duramente reprimidos e nessa ocasião Bárbara perdeu dois de seus filhos, mortos na guerra. Após a abdicação de D. Pedro I, em 1831, os restauracionistas (grupo que apoiava a monarquia) empreenderam uma forte reação aos revoltosos, que fez com que Bárbara tivesse que fugir. Dessa vez, ela não aguentou a viagem e morreu em em Fronteiras (PI) no dia 18 de agosto de 1832.

Atualmente, muitos são os esforços de grupos intelectuais nordestinos e feministas para lembrar da história, da vida e das lutas de Bárbara de Alencar. Centros culturais e medalhas com seu nome foram criadas e uma estátua de Bárbara foi erguida na Praça da Medianeira. Em 2014, seu nome foi inscrito no Livro de Heróis da Pátria e depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves em Brasília. Em 1980, Caetano Ximenes de Aragão publicou um livro-poema “Romanceiro de Bárbara”, que recentemente foi reeditado pela secretaria de cultura do Ceará. Esse verbete será concluído com um poema escrito em 1919 por José Carvalho em homenagem à Bárbara de Alencar e que também fecha o livro anteriormente referido. O poema é aqui reproduzido :

D. BARBARA
Eu, sim, de tudo sei!
Pela primeira vez tal cousa falei
bem constrangida, embora, a tão humilde amiga.
Posso amanhã morrer, mas quero que alguém diga

mesmo que seja assim do povo um mulher –
que da calumnia vil, sou victima! E siquer
nem dela me poupou a inveja e a negra intriga
de um inimigo tal, a quem seu ódio abriga
a nada respeitar, nem mesmo a honra alheia!
Ser liberal é toda minha macha feia
e pela qual respondo, assim calumniada,
porque succumbirei na fôrca ou fuzilada!
Em paga desse amor á terra que nasci
recebo um premio tal! Dir-se-á que padeci
mas não dirão jamais que a Patria reneguei!
Arrancaram-me tudo: a família que amei,
a honra de mulher; escravos que eu criei
como filhos também; – a fazenda ou riqueza –
mas, do meu coração, não podem, com certeza
arrancar este amor ao meu Brasil querido!
Morrerei satisfeita! Um dia esse Partido
ha de cantar victoria; e meu Paiz, emfim
ha de ser livre, um dia!

Pará – Janeiro – 1919
José Carvalho

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