Bárbara Pereira de Alencar, nascida no sertão pernambucano de Exu, em 11 de fevereiro de 1760, foi a primeira prisioneira política da história do Brasil e, por sua participação ativa na República Pernambucana de 1817, tornou-se protomártir da Independência do Brasil.
Casando-se aos 22 anos, transferiu-se para o Crato, no sul do Ceará. Foi mãe de cinco filhos; dois deles, José Martiniano de Alencar e Carlos José dos Santos, foram estudar no Seminário de Olinda; onde vieram se inteirar das ideias do liberalismo europeu do Século 17, fundamentos do ideário da República de Pernambuco de 1817.
Respeitada e atuante como uma das mais importantes matriarcas da região, figurada como uma mulher forte do sertão. Por conta de suas ligações com Pernambuco e em acordo com as ideias de seu filho, José Martiniano de Alencar, aos 57 anos teve participação ativa na Revolução de 1817, que começara justamente em Pernambuco. Com a Proclamação da República de Pernambuco , dona Bárbara Pereira de Alencar, proclamou a República do Crato, que teve a duração de oito dias, antes de ser severamente reprimida pelas forças aliadas da Coroa Portuguesa.
A repressão à República do Crato foi avassaladora. Bárbara e seus filhos foram presos e levados primeiro para Fortaleza, depois para Recife e Salvador. Todos os escritos de Bárbara foram destruídos ainda em 1817, o que favoreceu a defesa da família Alencar, livrando-os da pena capital. Após mais de três anos de prisão, Bárbara foi anistiada. Ao retornar, além da fama de traidora, havia perdido todos os seus bens.
Os contratempos e a idade não impediram que Bárbara participasse de outra revolta, agora com o Brasil já independente e contra Dom Pedro I e seu autoritarismo. Ela tomou parte da Confederação do Equador que explodiu em 1824 em Pernambuco, e que rapidamente se alastrou por outras províncias do Nordeste, entre elas o Ceará. Os rebeldes novamente foram duramente reprimidos e nessa ocasião Bárbara perdeu dois de seus filhos, mortos na guerra. Após a abdicação de D. Pedro I, em 1831, os restauracionistas (grupo que apoiava a monarquia) empreenderam uma forte reação aos revoltosos, que fez com que Bárbara tivesse que fugir. Dessa vez, ela não aguentou a viagem e morreu em em Fronteiras (PI) no dia 18 de agosto de 1832.
Atualmente, muitos são os esforços de grupos intelectuais nordestinos e feministas para lembrar da história, da vida e das lutas de Bárbara de Alencar. Centros culturais e medalhas com seu nome foram criadas e uma estátua de Bárbara foi erguida na Praça da Medianeira. Em 2014, seu nome foi inscrito no Livro de Heróis da Pátria e depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves em Brasília. Em 1980, Caetano Ximenes de Aragão publicou um livro-poema “Romanceiro de Bárbara”, que recentemente foi reeditado pela secretaria de cultura do Ceará. Esse verbete será concluído com um poema escrito em 1919 por José Carvalho em homenagem à Bárbara de Alencar e que também fecha o livro anteriormente referido. O poema é aqui reproduzido :
D. BARBARA
Eu, sim, de tudo sei!
Pela primeira vez tal cousa falei
bem constrangida, embora, a tão humilde amiga.
Posso amanhã morrer, mas quero que alguém diga
mesmo que seja assim do povo um mulher –
que da calumnia vil, sou victima! E siquer
nem dela me poupou a inveja e a negra intriga
de um inimigo tal, a quem seu ódio abriga
a nada respeitar, nem mesmo a honra alheia!
Ser liberal é toda minha macha feia
e pela qual respondo, assim calumniada,
porque succumbirei na fôrca ou fuzilada!
Em paga desse amor á terra que nasci
recebo um premio tal! Dir-se-á que padeci
mas não dirão jamais que a Patria reneguei!
Arrancaram-me tudo: a família que amei,
a honra de mulher; escravos que eu criei
como filhos também; – a fazenda ou riqueza –
mas, do meu coração, não podem, com certeza
arrancar este amor ao meu Brasil querido!
Morrerei satisfeita! Um dia esse Partido
ha de cantar victoria; e meu Paiz, emfim
ha de ser livre, um dia!
Pará – Janeiro – 1919
José Carvalho